Estudos recentes têm desmistificado o uso de drogas psicoativas em prol da ciência. Uma nova pesquisa da Universidade de Stanford descobriu que uma raiz de arbusto psicoativo usada há décadas em rituais religiosos tem potencial para servir no tratamento de lesão cerebral traumática em veteranos de guerra.
Anteriormente, percebeu-se que a mesma substância poderia ajudar no tratamento da dependência de opiáceos.
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A substância psicoativa em questão é a ibogaína, uma derivada de raízes do arbusto ibogaína, originária do centro-oeste da África. A raiz tem usos ritualísticos e religiosos centenários, mas há apenas poucas pistas de como ela pode ser usada na ciência e na medicina.
Segundo o IFLScience, em 1962 o farmacologista Howard Lotsof percebeu como a droga pode ser eficaz no tratamento de dependência a opiáceos. No entanto, apesar de ter registrado uma patente para o uso terapêutico, a substância continua ilegal nos Estados Unidos, podendo render até 20 anos de prisão.
Os pesquisadores, então, a estudaram no México, onde voluntários concordaram em participar dos testes.
O estudo contou com 30 voluntários militares veteranos de operações especiais. Todos sofriam com efeitos do traumatismo cranioencefálico (TCE), uma lesão no cérebro causada por pancadas na cabeça ou no corpo que afetam o cérebro, podendo ter outras consequências neurológicas.
Todos eles também se internaram voluntariamente e de forma independente para passarem por tratamento com magnésico e ibogaína em clínicas no México.
De acordo com Nolan Williams, professor associado de psiquiatria e ciências comportamentais e coautor do estudo, todos eles eram homens de alto desempenho em suas funções, que foram prejudicadas após a lesão durante o tempo de serviço.
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Após o tratamento com a ibogaína, a pesquisa indica que os sintomas associados ao TCE nos voluntários melhoraram: a pontuação média caiu para menos de 20, indicando uma deficiência leve. A velocidade de processamento cognitivo e as funções executivas (associadas a planos de ação e tomada de decisões) também tiveram melhora.
Depois de um mês de tratamento, a pontuação caiu para 5,1, na média. Isso indica nenhuma incapacidade, mostrando também que os sintomas associados ao estresse pós-traumático, depressão e ansiedade caíram em mais de 80%.
Os pesquisadores destacam que é possível que a droga não seja a única responsável pela melhora e que os benefícios terapêuticos também tenham a ver com a expectativa dos participantes. Ou seja, algo como um placebo. Além disso, a clínica oferecia condições diferentes da vida real, algo como “férias”, segundo Williams.
O estudo também destaca que o grupo de voluntários foi pequeno e não condiz com a representatividade da população total.
A conclusão final é que não é possível inferir que a ibogaína seja eficaz no tratamento do TCE e ainda está longe de ser incorporada à prática clínica, mas é um avanço no estudo de psicoativos.
Fonte: Olhardigital