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Embora o estresse seja frequentemente visto como inimigo do bem-estar, ele pode, paradoxalmente, servir como um poderoso catalisador para o crescimento pessoal. Quando aprendemos a lidar com o estresse em vez de evitá-lo, podemos canalizar sua energia para nos impulsionar rumo à resiliência, à realização e ao propósito.
O estresse é uma experiência universal humana, mas frequentemente mal compreendida. A maioria de nós o associa a resultados negativos — esgotamento, ansiedade ou sobrecarga. No entanto, essa narrativa mostra apenas um lado da história. Por baixo de sua superfície desconfortável, o estresse é uma força profundamente adaptativa, que moldou a sobrevivência humana e continua a moldar nosso potencial de crescimento.
Em sua essência evolutiva, o estresse é uma resposta biológica projetada para nos ajudar a sobreviver a ameaças imediatas. O mecanismo de “luta ou fuga” ajudava nossos ancestrais a reagirem rapidamente a predadores ou perigos ambientais. Essa resposta podia significar a diferença entre a vida e a morte, tornando o estresse uma parte essencial da sobrevivência.
Hoje em dia, embora as ameaças que enfrentamos sejam mais psicológicas do que físicas, essa resposta ao estresse ainda desempenha um papel vital: ela atua como um sinal de alerta, chamando a atenção para problemas que precisam ser resolvidos e nos motivando a agir e nos adaptar ao ambiente.
Estresse é uma reação natural do corpo desenvolvida ao longo da evolução para nos proteger de perigos imediatos
Essa natureza dupla do estresse — o fato de que ele pode fazer mal ou bem, dependendo de como nos relacionamos com ele — é conhecida como o "paradoxo do estresse". Sem certos tipos de estresse, talvez você não tivesse o impulso ou a urgência necessários para ter sucesso. Ao aprender a distinguir suas diferentes formas e a responder a elas de forma consciente, é possível usar o estresse como ferramenta para melhorar a vida.
Aqui estão três tipos de estresse que você pode transformar em oportunidades de crescimento:
Eustresse é o tipo de estresse que o motiva a dar o seu melhor. É aquela energia antes de uma grande apresentação, a determinação durante um treino ou a urgência com propósito ao assumir um novo cargo. Ao contrário do estresse crônico (ou “distresse”), o eustresse melhora o desempenho e fortalece a resiliência.
Por exemplo, treinar para uma maratona pode ser fisicamente exigente, mas o estresse da rotina de treinos o impulsiona a melhorar sua resistência, sabendo que cada passo o aproxima do seu objetivo. Assumir uma nova responsabilidade no trabalho — como liderar uma equipe ou gerenciar um projeto importante — também pode gerar eustresse. É desafiador, mas o faz se superar.
Um estudo de 2024 publicado na revista Stress & Health descobriu que, quando adolescentes veem o estresse como um desafio (eustresse), tendem a apresentar maior resistência mental. Por outro lado, quando o veem como uma ameaça (distresse), sua resistência mental é menor. Práticas de mindfulness (atenção plena) mostraram-se eficazes para favorecer essa visão mais adaptativa — ajudando a manter o equilíbrio mesmo sob pressão.
Aqui vão duas formas simples de abraçar o eustresse:
Use o estresse como ferramenta de motivação. Em vez de deixar que ele gere ansiedade, use-o para alimentar sua motivação. Antes de algo importante, canalize a energia nervosa para se preparar mais. Lembre-se: esse estresse é sinal de que você se importa com o resultado.
Reformule situações estressantes como oportunidades. Em vez de ver o estresse como um fardo, veja-o como uma chance de crescer. Por exemplo, se estiver nervoso com uma entrevista de emprego, encare como uma oportunidade de desenvolver sua comunicação e confiança — independentemente do resultado.
Enquanto a maioria das pessoas associa o estresse ao excesso de demandas, existe o outro extremo — o hipoestresse, que vem do tédio e da falta de desafios. Ele surge da subestimulação e pode levar à frustração, insatisfação e queda no bem-estar mental.
O hipoestresse é especialmente comum em situações onde as tarefas diárias se tornam repetitivas ou monótonas. Com o tempo, essa falta de estímulo pode causar sensação de vazio ou inquietação, pois sua mente busca engajamento significativo, mas continua desafiada de forma insuficiente.
Um estudo de 2024 publicado na BMC Public Health mostrou que o tédio no trabalho não apenas gera desatenção, mas também afeta negativamente o bem-estar geral.
Especificamente, o tédio no trabalho foi associado a:
Como lidar com o hipoestresse:
O hipoestresse nos lembra que a vida precisa de equilíbrio — não apenas alívio do estresse, mas também engajamento e desafio. O crescimento vem tanto de superar desafios quanto de buscar novos.
O hiperestresse é aquela sensação de estar sobrecarregado, e surge quando as demandas da vida ultrapassam nossa capacidade percebida de lidar com elas. É estar cronicamente no limite — equilibrando obrigações conflitantes, fazendo multitarefas além do razoável e raramente sentindo que está "em dia". Esse tipo de estresse pode esgotar sua energia, diminuir seu foco e prejudicar sua saúde.
Pesquisas publicadas na Experimental and Clinical Sciences apontam que o estresse tem função dupla: em doses moderadas, promove adaptação biológica e psicológica. Mas quando se torna crônico ou incontrolável, pode contribuir para diversas doenças — desde problemas cardíacos até depressão.
Embora o hiperestresse pareça puramente negativo, ele também pode ser um importante alarme para desacelerar, recalibrar e ouvir seu corpo. Ele sinaliza que seus limites físicos e mentais estão sendo testados — e pede uma pausa e ajustes.
Se não for tratado, o hiperestresse pode levar à exaustão total (burnout). Mas, ao reconhecê-lo cedo, você pode usá-lo como ferramenta de autoconhecimento e tomar medidas para restaurar o equilíbrio antes que a situação piore. Às vezes, dar um passo para trás é a chave para seguir em frente.
Como lidar com o hiperestresse:
O hiperestresse pode levar você ao limite, mas com estratégias conscientes, é possível retomar o controle e criar um equilíbrio mais saudável.
O estresse, em todas as suas formas, é parte natural da vida — mas é a maneira como respondemos a ele que realmente importa. Nossas reações determinam se ele vai nos sobrecarregar ou nos motivar. Isso nos dá uma escolha: enfrentar o estresse com resistência ou com curiosidade e autocuidado. Ao reconhecer suas mensagens e aprender a trabalhar com ele, até mesmo os momentos mais difíceis podem se transformar em catalisadores de evolução pessoal.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.
Fonte: Forbes Brasil